O Fino do Samba Contando Histórias, parte 01.
http://www.youtube.com/watch?v=ZdtZzHdYdM4
A banda O fino do Samba lança no mês de Julho/2011 em seus blogs o quadro “Contando histórias” que trará de forma poética, envolvente e fascinante a vida e as realizações dos grandes artistas que influenciaram a nação e também aos artistas do Fino do Samba que se sentiram tocados pela vida de cada um desses mestres presentes em outro lugar do universo e os contemporâneos. Guto Viva vocalista e Edy Bass/violão estão incumbidos de trazer suas pesquisas, seus comentários, e o ponto de vista a respeito dos artistas que alimentaram suas almas e as de milhões de seres humanos através da arte fazendo história e influenciando a geração atual hora contestando o sistema político, econômico, e as classes, e hora exaltando ou duvidando das belezas da vida.
Artista: Nelson Cavaquinho

29/10/1911 a 18/02/1986 (Rio de Janeiro – RJ)
O grande homenageado no quadro Contando Histórias é o compositor, instrumentista (cavaquinho e violão) e também cantor Nelson Cavaquinho nascido no bairro da Tijuca (Rio de Janeiro RJ), cresceu em um ambiente musical onde seu pai e tios eram músicos, e em sua residência eram realizadas rodas de samba aos domingos; aos 08 anos de idade Nelson mudou-se com sua família para a Lapa, freqüentou a escola primária e abandonou o curso para trabalhar como eletricista. Na adolescência foi morar com a família no subúrbio de Ricardo de Albuquerque para, finalmente, se estabelecerem em uma vila operária do bairro da Gávea, onde freqüentava os bailes dos clubes Gravatá, Carioca Musical e Chuveiro de Ouro, conhecendo músicos decisivos em sua formação, como Edgar Flauta da Gávea, Heitor dos Prazeres, Mazinho do Bandolim e o violonista Juquinha. Alguns desses músicos eram empregados de uma fábrica de tecido local. Do violonista Juquinha, receberia importantes noções de como tocar cavaquinho. Nesta época, Nelson Cavaquinho cunhou a sua marca e também a maneira peculiar de tocar o instrumento apenas com dois dedos, ganhando, a partir daí, o apelido de Nelson do Cavaquinho. Aos 16 anos, sem dinheiro para comprar o instrumento e pagar um professor, treinava em cavaquinho emprestado. Por essa época, trabalhava, também, como pedreiro e compôs a sua primeira música, o choro "Queda". Apesar de tocar bem o cavaquinho, era sempre necessário pedi-lo emprestado. Ao vê-lo nessa situação, Ventura, um jardineiro português, deu-lhe de presente o instrumento.
Em 1931, conheceu Alice Neves. Meses depois, arrastado para a delegacia pelo pai da moça, casava-se com Alice, com quem teve quatro filhos. O casal foi morar no subúrbio de Brás de Pina. O pai de Alice indicou-o para servir na Cavalaria da Polícia Militar, o pai de Nelson Cavaquinho alterou a sua certidão de nascimento para 29/10/1910, um ano mais velho, para que pudesse ingressar na cavalaria. Nelson Cavaquinho e seu cavalo de nome "Vovô" patrulhavam o Morro da Mangueira, local onde fez amizade com sambistas como Zé Com Fome (Zé da Zilda) e Carlos Cachaça. Conheceu Cartola na Quadra da Mangueira, e depois de ficar muito tempo conversando com este, seu cavalo Vovô voltou sozinho para o Batalhão, o que ocasionou mais uma vez, a sua detenção. Ficar detido era comum naquela época, já que passava dias sem ir ao quartel, em decorrência da boemia. Sobre este fato narrou:
"Eu ia tantas vezes em cana que já estava até me acostumado com o xadrex. Era tranqüilo, ficava lá compondo. Entre as músicas que fiz no xadrex está 'Entre a cruz e a espada' ".
No ano de 1938, antes de ser expulso da corporação, conseguiu dar baixa e, separado da mulher e afastado dos filhos, ingressou, de vez, na boemia e dedicou-se à música, foi morar na Mangueira em 1952. Teve vários
relacionamentos até que, no início da década de 1960, conheceu Durvalina, trinta anos mais nova do que ele, com quem viveu até a sua morte, ocorrida na madrugada de 18 de fevereiro de 1986, vitimado por um enfisema pulmonar.
Em sua homenagem, ao CIEP do bairro da Chatuba (em Mesquita), foi dado seu nome, graças aos esforços dos professores Sérgio Fonseca e Alda Fonseca. Na ocasião da inauguração, houve um show de Guilherme de Brito e Velha-Guarda da Mangueira.
De bar em bar, conheceu os sambistas e se apaixonou definitivamente pela Estação Primeira, à qual dedicou os sambas “Folhas Secas” e “Pranto de Poeta”, compostos em parceria com Guilherme de Brito. Até conhecer Guilherme, na década de 50, Nelson fazia sozinho seus sambas. Mas eles chegavam ao disco com um ou dois “parceiros”, aos quais ele vendera parte dos direitos autorais. Era a forma que usava para viver, após deixar a Polícia em1938 antes que fosse expulso. É difícil saber quem realmente era parceiro de Nelson, até porque ele tinha plena consciência de que vendera porque quis quando precisava e não tinha porque reclamar depois. Seu primeiro sucesso, “Rugas”, foi dividido com Ary Monteiro e Augusto Garcez. Em outro clássico, “Degraus da Vida” (que teve uma gravação fabulosa de Elizeth Cardoso em 1970), Nelson quase some entre os “parceiros” César Brasil e Antônio Braga. Compor com Guilherme de Brito fez com que os sambas de Nelson Cavaquinho cada vez mais falassem de seus temas preferidos: mulheres, flores e morte. A parceria gerou clássicos como “A Flor e o Espinho” (assinado por Nelson, Guilherme e Alcides Caminha), que inicia com um verso digno de antologia: “Tire seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor.” A venda de parte dos direitos desagradava alguns parceiros de Nelson. Foi assim com Cartola. Eles fizeram um samba juntos, Nelson deu uma carona na música e Cartola, decidiu manter a amizade, mas encerrar a parceria.O estilo de Nelson Cavaquinho tocar foi assim comentado pelo crítico Tárik de Souza em artigo de 1973 na Folha da Manhã de Porto Alegre: “O estranho violão toca sempre contrário à linha melódica, uma espécie de execução pelo avesso que às vezes lembra harmonizações orientais.” Tárik citava ainda o respeito que os violonistas Egberto Gismonti e Turíbio Santos, de formação erudita, tinham pelo autodidata Nelson Cavaquinho, criador de um estilo que não teve seguidores. Nelson Cavaquinho gravou apenas três discos solo, incluindo o de depoimento, além de participar outros três dedicados à sua obra. Já no cinema, Nelson atuou em três filmes, em que ele sempre aparecia num bar, com o violão, bebendo e cantando: seu próprio papel na vida. Foi assim nos longas O Casal, dirigido por Daniel Filho em 1975, e Muito Prazer, de David Neves, em 1979. Mas seu grande momento foi o curta Nelson Cavaquinho, que Leon Hirszman filmou em 1970, com Nelson circulando com os amigos pela Mangueira e batendo samba, como ele dizia. Uma forma excelente de lhe dar as flores em vida, como ele pediu no samba “Quando Eu me Chamar Saudade”, mais um da parceria com Guilherme de Brito.
Sobre sua forma de levar a vida, sempre na boemia, uma passagem muito interessante foi descrita pelo parceiro Eduardo Gundin que lembra do dia em que dirigindo o carro, ligou o rádio e passou a ouvir uma entrevista do compositor para o programa "Balance", da Excelsior. "A certa altura, o apresentador perguntou a Nelson quais eram os seus planos. E ele:
'Meus planos? O Gudin vai passar aqui para me pegar e vamos beber no Bar do Alemão'". No ano de 2011 em comemoração ao centenário do compositor foram feitas várias homenagens, entre as quais a de ter sido enredo da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, que desfilou com o samba-enredo "O filho fiel, sempre Mangueira", de Alemão do Cavaco, Cesinho Maluco, Xavier, Ailton Nunes, Rifai e Pê Baianinho, tendo como intérpretes Luizito, Zé Paulo Sierra e Ciganerey, classificando a escola em terceiro lugar na disputa do carnaval carioca deste ano. Neste mesmo ano o compositor foi homenageado pelo Instituto Cultural Cravo Albin com a exposição fotográfica "Vozes de Nelson Cavaquinho", do fotógrafo Ricardo Poock, com curadoria do poeta Jorge Salomão.
Após inúmeros shows, composições e exaltações ao samba, faleceu em 1986 poucos dias depois de ver sua escola de samba do coração, a Mangueira, vencer o carnaval. Nelson Cavaquinho foi uma grande personalidade e existem inúmeras obras literárias sobre sua vida e obra.
Foi em torno ou mais de 150 composições de Nelson Cavaquinho, e muitas vendidas (alguns de seus amigos chamaram de mal hábito) e também composições em parcerias, dentre tantas o principal parceiro foi Guilherme de Brito, outro bamba a quem dedicaremos maior atenção no quadro do Fino do Samba “Contando Histórias” por Guto Viva voz e Edy Bass/violão. Nossos agradecimentos a este grande mestre da MPB Nelson Cavaquinho que tem influenciado em especial os jovens músicos mineiros belohorizontinos do Fino do Samba.
Os sambas “Folhas Secas” e “Pranto de Poeta”, compostos por Nelson Cavaquinho em parceria com Guilherme de Brito são exaltados nas apresentações do Fino do Samba e Guto Vivá, não ficando sem menor admiração os sambas “A flor e o espinho”, “Juízo Final”, “Degraus da vida”, “Rugas”, “Quando Eu me Chamar Saudade”, “Palhaço” e muitos outros.
Discografia de Nelson Cavaquinho
• (2011) Nelson Cavaquinho - Cem Anos - Degraus da Vida • (vários) EMI Music • CD
• (2001) Nome sagrado - Beth Carvalho canta Nelson Cavaquinho • Jam Music • CD
• (2000) Mangueira - samba de Terreiro e outros sambas • Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro • CD
• (1996) Quando eu me chamar saudade • EMI/Odeon • CD
• (1996) Nelson Cavaquinho • RCA Victor • CD
• (1985) As flores em vida • Gravadora Eldorado • LP
• (1977) Cartola - verde que te quero rosa • RCA Victor • LP
• (1977) Quatro grandes do samba • RCA Victor • LP
• (1974) Roda de samba nº 2 • CID • LP
• (1974) Nelson Cavaquinho. Depoimento do poeta • Relançamento pela Continental • LP
• (1974) Nelson Cavaquinho • Odeon • LP
• (1973) Nelson Cavaquinho • Odeon • LP
• (1972) Série documento • RCA Victor • LP
• (1970) Nelson Cavaquinho - depoimento do poeta • Selo Castelinho • LP
• (1968) Fala Mangueira • (c/ Cartola, Clementina de Jesus e Carlos Cachaça) • LP
• (1966) Thelma Costa • CBS • LP
Disponível em:
http://www.dicionariompb.com.br/nelson-cavaquinho/biografia
http://www.dicionariompb.com.br/nelson-cavaquinho/critica
http://filhodejorge.blogspot.com/2007/09/nelson-cavaquinho.html
acessado em 07/07/11.